O dramaturgo, director e actor sul-africano aclamado internacionalmente, Athol Fugard, morreu neste domingo, aos 92 anos, em sua casa após prolongada doença.
A figura antiapartheid deixa um legado poderoso de obras como “Master Harold and the Boys” e “Sizwe Banzi Is Dead”, que moldaram o teatro no país. O governo sul-africano confirmou sua morte dizendo que o país havia “perdido um de seus maiores ícones literários e teatrais”.
O presidente Cyril Ramaphosa descreveu-o como “a consciência moral de uma geração”.
“Além do impressionante conjunto de trabalhos que deixou para trás, Athol Fugard será lembrado por ser um caso isolado entre os milhões de sul-africanos brancos que alegremente fizeram vista grossa às injustiças perpetradas em seu nome”, disse ele.
Fugard nasceu em 1932 em uma pequena cidade no Cabo Oriental. Ele estudou na Universidade da Cidade do Cabo, onde ele e sua então esposa, Sheila Meiring, formaram os Circle Players.
Mais tarde o casal se mudou para Joanesburgo, onde ele trabalhou como escrivão no Tribunal do Comissário Nativo, o que impactaria significativamente sua visão de mundo e moldaria sua consciência política.
O dramaturgo escreveu mais de 30 peças ao longo de sete décadas, a mais importante delas nos dias mais sombrios do apartheid.
Seis peças de Fugard foram apresentadas na Broadway, incluindo duas produções de “Master Harold and the Boys” em 1982 e 2003.
Suas peças mais conhecidas se concentram no sofrimento causado pelas políticas de apartheid do governo de minoria branca da África do Sul.
Numa entrevista em 1997, ele fala sobre sua peça mais pessoal, The Captain’s Tiger, uma reflexão autográfica sobre suas memórias de seus pais. “Durante os 40 anos de apartheid, eu era um escritor muito limitado. Eu tinha um foco, que era tentar dizer o máximo que eu pudesse sobre aquele sistema terrível e o que ele estava fazendo com as pessoas”, ele disse.
Fugard se tornou um alvo do governo do apartheid e seu passaporte foi retido por quatro anos depois que ele dirigiu uma oficina de teatro negro, “The Serpent Players”. Cinco membros da oficina foram presos na Ilha Robben, onde a África do Sul mantinha prisioneiros políticos, incluindo Nelson Mandela.
Fugard e sua família suportaram anos de vigilância governamental, tendo suas correspondências abertas, seus telefones grampeados e suas casas submetidas a buscas policiais à meia-noite. Mais tarde, Fugard lecionou actuação, direção e dramaturgia na Universidade da Califórnia, em San Diego.
Em 2006, o filme “Tsotsi”, baseado em seu romance de 1961 sobre um líder de gangue implacável, ganhou prêmios internacionais, incluindo o Óscar de filme estrangeiro. Ele ganhou um prêmio Tony pelo conjunto da obra em 2011.
Peças mais recentes incluem “The Train Driver” (2010) e “The Bird Watchers” (2011), ambas estreadas no Teatro Fugard na Cidade do Cabo. Como actor, ele apareceu nos filmes “The Killing Fields” e “Gandhi”.