Uma marcha pacífica contra a violência de género, organizada pelo movimento social “Unidas Somos Mais Fortes”, foi violentamente interrompida pela polícia angolana no sábado, 29 de Março, resultando na detenção de dez mulheres e gerando uma onda de indignação na sociedade civil.
O protesto, que pretendia denunciar o alarmante número de casos de violência contra mulheres em Angola, foi marcado por um forte aparato policial desde as primeiras horas da manhã.
Apesar de os organizadores afirmarem ter cumprido todos os requisitos legais, comunicando o evento às autoridades com antecedência, a polícia impediu a concentração no Largo das Heroínas, local previsto para a marcha, e em qualquer outro ponto da cidade.
“Explicámos que cumprimos todos os requisitos legais, comunicamos com bastante antecedência a realização da marcha e que estávamos num espaço público, pelo que não deveríamos recuar.
A polícia respondeu que não podíamos estar no Largo das Heroínas e que devíamos dispersar”, relatou Ginga Patrícia, uma das organizadora. A repressão policial foi marcada por violência e intimidação.
Os agentes, munidos de bastões e armas de fogo, forçaram as manifestantes a desfazerem-se dos cartazes e a retirarem as t-shirts produzidas para a marcha.
A organização decidiu cancelar o protesto devido à repressão, que incluiu a detenção de dez mulheres, entre elas Leonela Massocolo, Marisa Sofá, Marcela Mateus e Sávio Gonga.
O paradeiro das detidas ainda é desconhecido. A brutalidade policial contra as manifestantes, em pleno mês dedicado às mulheres, foi classificada como “escandalosa” pela sociedade civil angolana.
O colectivo feminista “Unidas Somos Mais Fortes” denunciou a ação como uma prova clara de que o Estado angolano é “opressor, machista e hostil para com as mulheres, sobretudo aquelas que ousam questionar políticas misóginas”.
A activista Ginga Patrícia criticou as políticas de proteção e inclusão das mulheres na sociedade angolana, classificando-as como “meramente fictícias”.
A repressão policial levanta sérias preocupações sobre a liberdade de expressão e o direito de manifestação em Angola, bem como sobre a proteção dos direitos das mulheres no país.
Contexto da Violência de Género em Angola. A violência contra as mulheres é um problema grave e persistente em Angola.

Dados recentes indicam que uma percentagem significativa de mulheres já experienciou alguma forma de violência ao longo da vida, seja ela física, sexual ou psicológica.
A impunidade dos agressores e a falta de apoio adequado às vítimas são fatores que contribuem para a perpetuação desse ciclo de violência.
A repressão da marcha em Luanda lança luz sobre os desafios enfrentados pelas mulheres angolanas na luta por seus direitos e por uma sociedade mais justa e igualitária. A ação policial também levanta questões sobre o espaço democrático e a liberdade de expressão no país.
Organizações da sociedade civil, activistas e defensores dos direitos humanos expressaram indignação com a repressão policial e exigiram a libertação imediata das mulheres detidas.
Há também apelos para que o governo angolano investigue a conduta da polícia e garanta o respeito aos direitos de manifestação e liberdade de expressão.
A comunidade internacional também manifestou preocupação com os eventos em Luanda, instando as autoridades angolanas a protegerem os direitos das mulheres e a garantirem um ambiente seguro para a livre expressão e o activismo.