A Maka de Educar – Coluna de Elisângela Tchissamba
É cada vez mais comum entregarmos smartphones ou tablets aos nossos filhos assim que chegamos a um lugar, seja um restaurante, hospital, casa de amigos e familiares ou festa, na tentativa de distraí-los. Embora pareça uma solução prática e rápida, o uso excessivo de telas traz riscos sérios ao desenvolvimento dos nossos filhos.
Além de problemas de saúde física, como distúrbios no sono e na visão, há impactos psicológicos profundos, como o aumento da ansiedade, dificuldades de socialização e até o desenvolvimento de comportamentos agressivos. Em muitos casos, a exposição precoce às redes sociais pode prejudicar a auto-estima das crianças e adolescentes e expô-las a conteúdos inadequados.
Existem muitas experiências que devemos conhecer em momentos específicos da vida, e outras que não são adequadas para ninguém. Muitos pais dizem: “É o que ele/ela quer.”
Mas, como responsáveis, somos nós que devemos estabelecer limites. As crianças buscam prazer imediato e não têm a maturidade necessária para compreender as consequências desse prazer.

O tempo excessivo em telas pode até prejudicar a capacidade de concentração das crianças, tornando-as mais ansiosas e impacientes. Quando as telas são usadas como uma forma constante de distracção, elas começam a depender dessa estimulação rápida e intensa, o que pode resultar em uma diminuição da capacidade de focar em actividades mais simples e menos estimulantes, como ler um livro ou brincar de forma criativa.
Além disso, o comportamento das crianças tende a ser mais imprevisível e as birras mais constantes quando estão expostas por muito tempo às telas. Elas podem se tornar mais irritadas ou frustradas ao serem retiradas do telefone ou tablet, já que a transição entre um estado de alta estimulação e a rotina diária pode ser difícil.
Essa falta de controlo sobre as próprias emoções também pode interferir no desenvolvimento de habilidades de auto-regulação, fundamentais para a convivência social e o aprendizado. As crianças que passam muitas horas em frente a dispositivos tendem a ser menos produtivas em actividades que exigem foco, além de apresentarem dificuldades para lidar com tarefas mais longas e complexas, que não possuem a mesma gratificação instantânea que as telas oferecem.

Como pais e educadores, devemos encontrar maneiras de equilibrar o uso da tecnologia com momentos de qualidade e de interacção real e consciente. Em vez de uma tela, que tal promover uma boa conversa, uma brincadeira lúdica como o jogo de dama ou quebra-cabeça, ou até um passeio a pé pelas ruas da cidade para que as crianças conheçam mais sobre a cultura a sua volta? A leitura de livros de autores angolanos, ou de qualquer outra parte do mundo, também pode ser uma excelente maneira de estimular a criatividade, além de fortalecer os laços familiares.
O ócio, aquele tempo livre sem compromissos, é igualmente essencial para o desenvolvimento saudável. Na nossa cultura, o “sentar e conversar” com os mais velhos sempre foi uma maneira de aprender e se conectar, e isso ainda é válido nos dias de hoje. Ao invés de ficarmos o tempo todo em frente às telas, podemos resgatar essas práticas que nos ajudam a manter a nossa identidade e fortalecer as relações familiares.
Ao focarmos em alternativas mais enriquecedoras, como brincadeiras ao ar livre, actividades culturais, religiosas ou artísticas e momentos de desconexão das telas, contribuímos para o desenvolvimento equilibrado e saudável dos nossos filhos.

Isso não significa negar a tecnologia, mas sim garantir que ela seja utilizada de forma consciente, complementando, e não substituindo, os momentos de interacção genuína. Aproveite o fim de semana para explorar novas actividades com os seus filhos!
Que tal sair para um passeio, visitar um museu, caminhar, ou até mesmo cozinhar juntos em casa? São opções simples e enriquecedoras que ajudam a criar memórias afectivas inesquecíveis e a fortalecer o vínculo familiar, ao mesmo tempo em que incentivam o desenvolvimento de habilidades importantes. E você, já pensou no impacto das telas na vida do seu filho?
Quais alternativas tem encontrado para equilibrar a tecnologia com momentos úteis e de qualidade? Vamos juntos cultivar momentos que alimentem o coração e fortaleçam os laços com quem mais importa.
Fim de semana é na base do funje, do batuque e da boa conversa larga a tela, viva o momento.
Por Elisângela dos Santos Chissamba
Dissertação esplêndida. Estamos na luta dessa redução/corte, porque as consequências são mesmo catastróficas.
Muito obrigada pelo cuidado de sempre com as suas palavras.