A Suécia consolidou-se como líder europeu na gestão de resíduos sólidos. Com mais de 99 por cento dos resíduos desviados dos aterros sanitários sendo reciclados ou convertidos em energia , o país enfrenta um problema inesperado: não produz lixo suficiente para abastecer as suas centrais de incineração.
Os cidadãos participam activamente na separação de resíduos, com sistemas rigorosos de recolha e taxas ajustadas à quantidade produzida. Descartes improdutivos como cinza, porcelana ou metais são recuperados e reciclados ou usados em construção civil.
Apesar de produzir cerca de 4,4 milhões de toneladas de resíduos por ano, com 2,2 milhões utilizados em instalações waste-to-energy (WTE), o país importa entre 800 mil e dois milhões de toneladas, oriundas do Reino Unido, Noruega, Irlanda, Itália, Roménia e outros países europeus, para manter os altos níveis de conversão energética.

A incineração gera vapor que impulsiona turbinas para a produção de electricidade e aquecimento urbano. Este sistema aquece cerca de 950 mil a um milhão e 500 mil fogos e fornece electricidade para aproximadamente 250 mil a 780 mil habitações.
A substituição de aterros por incineração evita emissões de metano, um gás com impacto climático 84 vezes superior ao dióxido de carbono (CO₂) num horizonte de 20 anos. Desde os anos 1980, os níveis de emissões das incineradoras sofreram reduções entre 90 e 99 por cento, graças a avanços tecnológicos como filtros, precipitadores electrostáticos, lavagem de gases e conversores catalíticos.
A Suécia aplica uma lei de responsabilidade alargada do produtor e uma taxa por peso de resíduos, incentivando a separação doméstica desde os anos 1990. O país proíbe o aterro de resíduos combustíveis desde 2002 e de resíduos orgânicos desde 2005, reforçando políticas de economia circular e biogás.
A importação de resíduos configura-se como um negócio lucrativo, com a Suécia a cobrar aos países parceiros pelo tratamento, permitindo-lhes evitar os custos e impactos dos seus próprios aterros.
Nem todos saudam este modelo. Organizações como a Zero Waste Europe questionam se a incineração massiva não atrasa a redução da produção de resíduos e a reciclagem.
Críticos apontam ainda para possíveis emissões tóxicas, como dioxinas e furanos, defendem que o modelo pode incentivar a produção de lixo para alimentar as centrais.
Ainda assim, a Suécia transformou radicalmente aquilo que se chama “lixo” num recurso estratégico, reduzindo drasticamente a deposição em aterros, gerando energia renovável e instaurando uma economia circular avançada. Embora com polémica, o país mostra que resíduos bem geridos podem ser valiosos e até desejados por outros países.
Este modelo sueco serve de inspiração: demonstra que, com legislação eficaz, tecnologia moderna e participação cidadã, o lixo pode convergir para soluções ambientais e económicas.
No entanto, exige vigilância constante para evitar impactos inesperados e assegurar que a prioridade continue a ser a redução, a reutilização e a reciclagem.