A crise política em Madagascar conheceu, neste domingo (12), novos e preocupantes desdobramentos, após o Presidente, Andry Rajoelina, ter denunciado uma “tentativa ilegal de tomada do poder pela força”.
O alerta surgiu depois de um contingente de soldados ter se juntado a milhares de manifestantes antigovernamentais que, há vários dias, ocupam as ruas da capital, Antananarivo.
Num comunicado dirigido à nação e à comunidade internacional, Rajoelina afirmou que “uma tentativa de tomada de poder ilegal e pela força, contrária à Constituição e aos princípios democráticos, está em andamento em território nacional”. O chefe de Estado apelou ainda à serenidade e ao diálogo como “único caminho para a resolução da crise que o país enfrenta actualmente”.

As manifestações, inicialmente motivadas pela crescente insatisfação popular devido aos cortes de energia e água, evoluíram para uma contestação aberta ao Governo. No sábado (11), o cenário agravou-se quando militares da unidade de elite CAPSAT, a mesma que apoiou Rajoelina na sua ascensão ao poder há dezasseis anos, decidiram juntar-se aos manifestantes.
O Coronel Mickaël Randrianirina, uma das figuras de destaque da unidade, incitou os seus camaradas à desobediência, pedindo-lhes que “impedissem os aviões de deixar o território” e que “não aceitassem ordens de seus superiores para atirar nos seus amigos”.
As suas declarações foram interpretadas como um claro apelo à insubordinação e à ruptura com a hierarquia militar.
Os soldados acompanharam os manifestantes, na sua maioria jovens, até à simbólica praça 13 de Maio, no centro da capital, onde se concentram as principais manifestações antigovernamentais.
Perante o agravamento da tensão, a Presidência malgaxe reiterou o apelo às forças armadas para que “defendam a Constituição e a legalidade democrática”, classificando as recentes movimentações como uma “ameaça à estabilidade do país”.
A situação de instabilidade já começa a ter impacto internacional. A companhia aérea Air France anunciou a suspensão temporária dos seus voos para Madagascar, que justifica a decisão com questões de segurança.
Com o país mergulhado numa das mais sérias crises políticas da última década, cresce a preocupação da comunidade internacional face ao risco de escalada da violência e ao futuro incerto do Governo de Andry Rajoelina.