Por: Redação Portal Zango
A parceria crescente entre Rússia e China tem dado sinais claros de que estas potências pretendem reconfigurar a ordem mundial, promovendo um sistema mais multipolar e menos dependente das influências dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Esta aliança estratégica, fortalecida durante encontros como a cúpula do BRICS em Kazan, representa não apenas um desafio ao status quo global, mas também uma nova janela de oportunidades para países em desenvolvimento, especialmente em África. Neste contexto, o que significa esta mudança para Angola e para o continente africano? E de que forma África poderá posicionar-se para tirar proveito deste novo cenário geopolítico?
Oportunidades Económicas para Angola
Para Angola, esta aliança entre Rússia e China pode representar uma oportunidade única de diversificar as suas parcerias económicas e reduzir a dependência do Ocidente. Angola já possui relações económicas profundas com a China, que tem sido uma das principais investidoras em infraestrutura e exploração de recursos naturais no país. A entrada da Rússia nesse cenário pode equilibrar ainda mais esta relação, oferecendo alternativas no que toca ao financiamento de grandes projectos e fornecimento de tecnologias, especialmente em áreas como a energia, mineração e defesa.
A Rússia, embora com uma presença económica em África menos expressiva que a China, tem mostrado interesse em expandir a sua influência no continente, especialmente através de cooperações na área de defesa e segurança. Para Angola, que enfrenta desafios na modernização das suas forças armadas e na protecção das suas fronteiras, esta aproximação pode ser vantajosa. Além disso, a Rússia tem avançado no sector de energia nuclear, o que poderia abrir portas para colaborações futuras no desenvolvimento de energia sustentável e barata para Angola.
Uma África mais Independente e Activa no Cenário Global
A aliança sino-russa pode oferecer a África uma alternativa aos modelos de desenvolvimento impostos pelas instituições financeiras ocidentais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que muitas vezes vêm acompanhados de condições rígidas e reformas estruturais exigentes. China e Rússia, com um histórico de intervenções menos intrusivas, apresentam-se como parceiros dispostos a investir com menos interferência nas políticas internas dos países africanos. Isto oferece uma oportunidade única para África definir a sua própria trajectória de desenvolvimento, alinhada com as necessidades e ambições de cada país.
Para Angola e outros países africanos, esta é uma oportunidade para adoptar uma postura mais assertiva no cenário internacional. Ao invés de serem apenas receptores de ajuda ou investimento, os países africanos podem posicionar-se como parceiros estratégicos, capazes de negociar condições favoráveis e exigir respeito pela sua soberania e especificidades culturais. A presença de mais actores na arena global permite a Angola e a África um espaço maior para a negociação, diversificando as fontes de investimento e reduzindo os riscos de dependência excessiva de um único parceiro.
Desafios e Responsabilidades na Escolha dos Parceiros
No entanto, a aproximação com Rússia e China não está isenta de desafios. Ambos os países têm os seus próprios interesses estratégicos em África, e é essencial que os líderes africanos mantenham uma postura vigilante, assegurando que estas parcerias não resultem em exploração dos seus recursos ou na criação de novas dependências. A história de África é marcada por intervenções externas que, em muitos casos, resultaram em exploração e subjugação. Assim, cabe a Angola e aos seus líderes garantir que as novas parcerias sejam justas e vantajosas para ambas as partes.
Além disso, a influência ocidental em África não desaparecerá tão cedo, e a aproximação com a China e a Rússia pode gerar tensões diplomáticas com antigos parceiros europeus e norte-americanos. Cabe aos países africanos equilibrar estas relações de modo a maximizar os benefícios e minimizar os conflitos de interesse.
A ascensão de uma nova ordem global, impulsionada pela aliança entre Rússia e China, representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para Angola e o continente africano. Ao mesmo tempo que oferece alternativas ao domínio ocidental, esta nova configuração permite a Angola diversificar as suas parcerias, atraindo investimentos e tecnologias que podem acelerar o seu desenvolvimento.
Para Angola e África como um todo, esta é a oportunidade de se posicionarem de forma autónoma e activa, moldando as suas políticas económicas e sociais em alinhamento com os seus próprios interesses. Cabe aos líderes africanos aproveitar esta conjuntura para criar um futuro mais próspero e independente, onde África não seja apenas um cenário de disputa entre potências globais, mas sim um actor central e respeitado na construção da nova ordem mundial.
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