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Dia da Consciência Negra: Reflexões Sobre a Identidade Angolana e o Assimilismo

Por: Redação Portal Zango

No Dia da Consciência Negra, é inevitável refletir sobre a herança cultural e histórica que molda as sociedades africanas e, em particular, a angolana. Este é um momento não apenas para celebrar a resistência e as conquistas, mas também para questionar o impacto contínuo do assimilismo sobre os valores, as línguas regionais e a identidade nacional.

A História do Assimilismo em Angola

O sistema colonial português promoveu, durante décadas, o conceito de assimilação, que privilegiava a adoção da cultura e dos valores europeus em detrimento das tradições africanas. Ser “assimilado” era, supostamente, um avanço social, mas, na prática, implicava a negação de raízes, línguas e práticas culturais próprias. O assimilismo criou uma barreira entre os próprios angolanos, estabelecendo uma hierarquia cultural que ainda hoje deixa marcas profundas.

A Morte das Línguas Regionais

Um dos legados mais devastadores do assimilismo é o gradual desaparecimento das línguas regionais em Angola. Línguas como o Kimbundu, Umbundu, Kikongo e Cokwe, que outrora eram pilares da comunicação e da transmissão de valores ancestrais, hoje enfrentam um declínio alarmante. A pressão para priorizar o português como língua única de ensino e comunicação reduziu o espaço para essas línguas, transformando-as, muitas vezes, em símbolos de atraso em vez de orgulho cultural.

A morte de uma língua significa a perda de uma cosmovisão única, de histórias, saberes e práticas que não podem ser traduzidos ou replicados em outras línguas. Esta perda, silenciosa mas devastadora, desconecta gerações da riqueza de suas próprias origens.

A Persistência da Assimilação na Modernidade

Embora Angola tenha conquistado sua independência em 1975, o processo de assimilação continua, agora sob novas formas. A globalização, o consumismo e a busca por validação externa substituíram os antigos sistemas coloniais, mas perpetuam o mesmo desprezo pelas raízes locais. Jovens angolanos frequentemente valorizam mais o que vem de fora, seja música, moda ou idioma, enquanto ignoram ou até rejeitam as manifestações culturais locais.

Além disso, a urbanização acelerada e a centralização em cidades como Luanda reforçam a homogeneização cultural, onde as tradições rurais e comunitárias são vistas como ultrapassadas. Esse cenário evidencia um desafio: como preservar uma identidade coletiva enquanto se participa de um mundo globalizado?

A Urgência de Resgatar Valores e Identidade

No Dia da Consciência Negra, precisamos reconhecer que a luta pela igualdade e pelo respeito começa em casa, com a valorização do que é nosso. A cultura angolana, em sua diversidade, é um patrimônio que deve ser celebrado e protegido. Isso inclui:
1. Revalorizar as línguas regionais: Implementar políticas públicas para o ensino de línguas nativas nas escolas e promover sua utilização em meios de comunicação e eventos culturais.
2. Promover a cultura local: Investir em programas que fortaleçam as tradições musicais, gastronômicas e artísticas de todas as regiões.
3. Educar sobre a história real de Angola: Incluir nos currículos escolares uma visão abrangente sobre a riqueza cultural pré-colonial e os impactos do colonialismo.

O Desafio de Reencontrar-se

A consciência negra não é apenas sobre o reconhecimento da luta contra o racismo, mas também sobre a necessidade de reconstruir identidades fragmentadas. Em Angola, este desafio é urgente. Resistir ao assimilismo moderno significa valorizar o que nos faz únicos, preservar nossas raízes e promover uma visão de futuro que inclua, respeite e celebre nossa diversidade.

Neste dia, que a reflexão sobre nossa identidade nos inspire a resgatar o que ainda pode ser salvo e a lutar pelo futuro de uma Angola que honra seu passado sem esquecer quem realmente é. A luta pela consciência negra é também a luta pela consciência cultural e nacional.

Escrito Por
Redação Portal Zango
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