Em resposta ao enfraquecimento percebido do compromisso dos EUA com a segurança europeia, o presidente francês Emmanuel Macron convocou discussões com outros líderes sobre o reforço da defesa continental por meio do arsenal nuclear francês.
A proposta, porém, parece insuficiente para algumas nações, que consideram desenvolver suas próprias capacidades nucleares diante da ameaça russa. As informações são do jornal Financial Times.
A preocupação com a defesa do continente se intensifica à medida que o presidente norte-americano, Donald Trump, questiona o papel tradicional de seu país como protector da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Em resposta a essa incerteza, países como Alemanha e Polônia expressaram a necessidade de explorar alternativas para garantir a segurança nuclear.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, foi além e disse considerar a possibilidade de que seu país adquira suas próprias armas nucleares, enquanto Lituânia e Letônia manifestaram aval ao fortalecimento do poderio nuclear europeu.
Conforme o debate se aquece na Europa, a proposta de Macron marca uma possível mudança histórica na política de defesa nuclear no continente, que tradicionalmente dependeu do guarda-chuva nuclear americano, composto por mais de cem bombas espalhadas por diversos países.
Embora Washington mantenha o controle, as armas são facilmente transportáveis e podem ser disparadas por jactos de várias nações. Sem tal poder de dissuasão, a Europa entende que seria necessário buscar alternativas para manter os inimigos, sobretudo a Rússia, afastados.
“Estamos entrando em um território desconhecido, e a resolução será desafiadora”, comentou Hubert Védrine, ex-ministro francês, reflectindo sobre a complexidade do cenário actual. “Nunca houve qualquer solicitação de um país europeu para tal coisa, pois ninguém jamais quis questionar o apoio dos EUA”.
O envolvimento no Grupo de Planeamento Nuclear da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), sugerido por especialistas como Marion Messmer, do think tank Chatham House, alinharia as doutrinas nucleares francesa e britânica para defesa da Europa.
Isso não apenas integraria a França ao plano de defesa colectivo, mas também enviaria um sinal claro à Rússia sobre o compromisso da Europa com sua segurança. “Exploraremos nos próximos meses se novas cooperações são possíveis”, afirmou Macron.
Além disso, a especificação da doutrina nuclear, conforme sugerido por Camille Grand, ex-funcionária da Otan, é vista como crucial. E mesmo o compromisso francês parece não tranquilizar os europeus. “A confiança não é suficiente, precisamos de garantias concretas de que o presidente francês agirá em defesa dos aliados quando necessário”, disse ela.