Tragédia expõe a vulnerabilidade de comunidades envolvidas na extração clandestina de petróleo no país.
Uma explosão devastadora ocorrida em uma refinaria ilegal de petróleo no sul da Nigéria deixou dezenas de mortos na madrugada deste domingo (6).
O incidente aconteceu na região do estado de Rivers, uma das mais afectadas pela actividade clandestina de refinar petróleo, e levanta novamente preocupações sobre os riscos associados a essas operações ilegais que proliferam em áreas marginalizadas.
Segundo autoridades locais, ao menos 30 corpos foram encontrados carbonizados no local da explosão, ocorrido enquanto um grupo de trabalhadores processava petróleo bruto extraído ilegalmente de oleodutos da região.
Testemunhas relataram que havia mais de 50 pessoas presentes no momento do acidente, o que indica que o número de vítimas pode ser ainda maior.
“Foi um cenário de horror. Os corpos estavam irreconhecíveis. Muitos deles eram jovens que buscavam uma forma de sustento rápido”, afirmou um morador que pediu para não ser identificado. Equipas de resgate continuam no local, enquanto a polícia investiga as causas da explosão.
A Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo de África, mas a distribuição desigual de riqueza e oportunidades tem empurrado muitos jovens para a economia clandestina.
As chamadas refinarias artesanais ou ilegais são operações rudimentares, instaladas em áreas de mata fechada ou vilarejos remotos, onde o petróleo bruto é processado em condições extremamente precárias.
O processo envolve ferver o petróleo bruto em tanques improvisados, frequentemente sobre fogueiras alimentadas com madeira ou resíduos inflamáveis. Os riscos são imensos: vazamentos, combustões descontroladas e explosões são comuns — e quase sempre letais.
“Essas actividades não apenas são ilegais, como também colocam em risco a vida das pessoas e o meio ambiente. Infelizmente, muitos se envolvem por desespero e falta de alternativas económicas”, declarou Nyesom Wike, governador do estado de Rivers.
Essa não é a primeira vez que a Nigéria registra tragédias semelhantes. Em Abril de 2022, uma explosão em uma refinaria ilegal no estado vizinho de Imo matou mais de cem pessoas. Apesar dos esforços do governo para reprimir essas práticas, a pobreza generalizada e a corrupção sistêmica dificultam acções eficazes e sustentáveis.
O governo federal prometeu reforçar a fiscalização e lançar programas de apoio económico para reduzir a dependência dessas actividades ilegais, mas especialistas apontam que, sem uma reforma estrutural profunda, novos desastres são inevitáveis.
Organizações de direitos humanos e ambientalistas pedem acções imediatas e mais contundentes.
“É urgente que se combata não apenas a operação dessas refinarias, mas as causas que levam as pessoas a depender delas. Sem justiça social, a violência e as tragédias continuarão a se repetir”, afirmou Amaka Okafor, ativista da ONG Environmental Rights Action.
Enquanto isso, famílias enlutadas choram seus mortos e comunidades inteiras tentam lidar com os traumas deixados por mais uma tragédia que expõe as feridas abertas da exploração petrolífera na Nigéria.