O cenário político da Bolívia voltou a se acirrar nos últimos meses com declarações contundentes do presidente Luis Arce contra o ex-presidente e actual líder da oposição, Evo Morales.
Arce acusou Morales de articular uma tentativa de golpe de Estado, com o objectivo de desestabilizar o governo e forçar sua saída antecipada do poder.
De acordo com o presidente, Morales estaria usando manifestações populares, bloqueios de estradas e mobilizações sociais como instrumentos para pressionar o governo e criar um clima de ingovernabilidade.
Arce afirmou que seu ex-aliado quer impor sua candidatura à presidência nas eleições de 2025, “por bem ou por mal”, mesmo que isso custe a estabilidade institucional do país.
A tensão entre os dois líderes, que já foram aliados no mesmo partido — o Movimento ao Socialismo (MAS) —, ganhou força desde que Arce assumiu o cargo em 2020.
Morales, que governou a Bolívia entre 2006 e 2019, vem manifestando insatisfação com os rumos da actual gestão e anunciou publicamente sua intenção de voltar à presidência.
A decisão reacendeu disputas internas no MAS e expôs uma fragmentação do bloco político que, por anos, dominou a política boliviana.
Em resposta às acusações, Evo Morales negou qualquer tentativa de golpe e disse que as manifestações são resultado do descontentamento popular diante da crise económica que o país enfrenta.
A Bolívia tem passado por uma escassez de combustíveis, queda nas reservas internacionais e alta da inflação, factores que têm alimentado protestos em várias regiões.
Morales sustenta que está apenas dando voz ao povo e que as mobilizações são legítimas.
No entanto, membros do governo acusam Morales de instrumentalizar os movimentos sociais para fins pessoais e eleitorais, manipulando sua base de apoio tradicional — especialmente sindicatos, sectores camponeses e indígenas — para minar a autoridade de Arce.
Por outro lado, apoiantes de Morales denunciam perseguição política e alegam que Arce se afastou dos princípios populares do MAS.
A crise evidencia uma profunda divisão dentro da esquerda boliviana e pode ter repercussões significativas para as eleições presidenciais de 2025.
Observadores internacionais e analistas políticos alertam para o risco de instabilidade institucional, caso o embate entre as duas lideranças não seja resolvido por vias democráticas e dialogadas.
Com o país ainda tentando se recuperar dos impactos econômicos da pandemia e a lidar com a crescente polarização política, o futuro da Bolívia permanece incerto, e a disputa entre Arce e Morales promete marcar os próximos capítulos da política nacional.