Crónicas de Manuel de Jesus
Num encontro fraternal da velha guarda, juntou-se um grupo de Kotas com idade avançada, mas jovens nas memórias e doces no afecto interpessoal. Lá estava uma geração de Kotas, que hoje é tida como a geração dos que estão a bazar, mas também é a geração de aço.
Esses que hoje são Kotas, nasceram e cresceram numa época em que a tecnologia era escassa e não fazia parte dos passatempos nem, tão-pouco, do quotidiano. Corriam atrás dos “rucas” para se “maguélarem”, provocavam os “cambuas” e fugiam, e também batiam às portas das casas e depois davam “lengueno”. Jogavam um “trumuno” com bola de trapo, num desafio amigável — lado de cima contra o lado de baixo — mesmo sem troféu, a entrega era fervorosa e a disputa cheia de honra.
Tinham variados “meios de transporte”, feitos com as próprias mãos, como o carro de sabão e a trote, feitos com madeiras e rolamentos; as jantes de mota ou de bina, guiadas com um bastão fino, numa imaginação de motorizada; e os pneus com dois paus embutidos numa lata, aos quais era adicionado óleo queimado dos motores verdadeiros para escorregarem e “cuiarem” melhor.
Essa geração de aço, ainda putos, bazava para longe, para apanhar peixinhos nas lagoas formadas pelas águas da chuva e, por lá, faziam “praia tipo nada”. Voltavam sujos e vitoriosos, depois de uma jornada satisfatória. O medo da surra invadia o pensamento, e, para evitar levar uma, colocavam palitos no cabelo.
Pela idade, chega agora o momento de bazar — bazar para casa, por já não haver espaço no salão, apesar da experiência e das realizações prodigiosas de uma vida inteira. Não importa quão bem-sucedido ou poderoso o Kota foi durante a sua carreira. Agora, com a idade mais avançada, é a própria sociedade que começa, lentamente, a eliminar estes Papoites.

Mas Jesus tem estado atento — Ele vê que são apenas os amigos de bom papo, aqueles que gostam de estar, escutar e partilhar, que serão os seus verdadeiros companheiros. Porque, mesmo a família, em alguns casos, vai também afastando estes “Vengós”. Muitos têm bué de “monames” e netos, mas, na maior parte do tempo, vivem apenas com a sua Costela ou Ás. Podem até estar rodeados de família, mas nota-se que esses falam mais entre si do que com os velhos — não importa o chefe de família que ele tenha sido, nem toda a prosperidade que trouxe.
Quando os filhos os visitam, ocasionalmente, é uma demonstração de afecto e respeito. Por isso, não se deve culpá-los por virem menos vezes — estão ocupados com as suas próprias vidas, com os seus próprios filhos.
Nesta fase, percebe-se que apenas os velhos amigos, aqueles que sempre se identificaram e tiveram prazer em estar juntos, é que virão à procura deles. A Terra começa a querer eliminar a geração da velha guarda — a geração de aço. Mas não fiquem tristes ou desanimados, pois esse é o curso natural da vida, e todos os que forem privilegiados por Nzambi com vida longa, seguirão por esse mesmo caminho.
Aqui vai uma dica aos putos desse time: enquanto os nossos corpos ainda têm energia, enquanto estamos lúcidos e ainda admirados pelos velhos kambas e companheiros de luta — vivamos a vida ao máximo, sobretudo encontrando quem gostamos!
E, tal como o GACCA e outros grupos de Kotas, participa dos encontros, come o que te apetecer, bebe o que desejares, brinca e faz aquilo que amas!
Mas o mais importante: lembra-te que aqueles que nunca te vão deixar bazar serão, provavelmente, o teu grupo de Kambas.
Por isso, participa mais na tua própria vida: encontra os Bradas, cultiva a amizade mesmo na velhice, participa nos grupos de amigos e redes sociais — manda um “bom dia”, diz um “olá”, mantém a tua presença, sê feliz e não guardes arrependimentos!
Afinal, serás sempre lembrado se fores luz por onde passares.
Dedicado aos Bons Amigos de longa data.
Jesus Está de Olho!!!
