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JESUS ESTÁ DE OLHO NO INDULTO

crónicas de Manuel de Jesus

Somos todos seres falíveis, partindo do princípio de que ninguém é perfeito, e um pai não pode ser tão severo ao ponto de virar as costas ao filho e nunca mais querer saber dele.  

Jesus acredita que os estabelecimentos prisionais foram criados para moldar os seres humanos, para que estes possam, posteriormente, ter uma conduta adequada dentro da sociedade.  

É verdade que o pai deve perdoar o filho, mas, como é do conhecimento geral, tudo tem limites, porque quando o filho não se emenda, há que tomar medidas mais firmes.

Cinquenta anos de história, bem ou mal contada, são ainda assim cinquenta anos de história.  

Uns a receber medalhas e condecorações, outros a serem “coados” — esse coador deve ter três camadas finíssimas!  

Cinquenta anos que já estão a trazer alegrias para muitos e, para outros, profunda tristeza.  

Como pensam muitos, cometem-se pecados com a certeza de que depois basta juntar as mãos, fechar os olhos, dobrar os joelhos e dizer a frase mágica: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido…” — e já está!  

E já está mesmo. O indulto vem provar que o pai está a perdoar os miúdos mal comportados, para que participem na boda e recebam a sua parte do bolo-rei.  

Alguns, vindos lá das masmorras, apanharam grandes lições, estando assim em condições de serem reintegrados na sociedade novamente. Mas será que cada um vai realmente ocupar o seu lugar?

Porque os miúdos do “Bad B” andam a fazer sassassa lá na “Caop” do abecedário. Os indultados de lá voltaram às velhas práticas: assaltos à mão armada em plena luz do dia e também na calada da noite. O povo daquela banda voltou a viver sem paz, tendo de olhar para trás sempre que a noite cai.  

O mano Big Boss da ala da “Ordem e Tranquilidade”, vestido a rigor e com o peso nos ombros — nada a ver com a cruz que Simão de Cirene carregou ao ajudar o Mestre — nada faz para conter tal situação.

Na cerimónia de soltura dos indultados há direito a beijinhos e abraços, como se fossem sentir saudades uns dos outros. Têm também o último puxão de orelhas e algumas breves considerações.  

Os tais, com expressões faciais que tentam mostrar um cabucado de arrependimento, juram que, de agora em diante, serão melhores seres dentro desta sociedade triste e degradada.  

Alguém disse que aprendeu muito na “cuzú”, e agora sabe que errar é humano, mas repetir o erro é burrice.  

Há quem aproveitou a soltura e já se mandou para a Tuga, outros vão receber cargos de chefia com toda a calma. Afinal, todos serão reintegrados na sociedade. Não é?

Um kota de cinquenta anos com uma mboa de vinte e três vão dar um forró bodó, e essa boda vai ser só à toa — vão recordar os tempos de cabelo branco, quando tirava a chapa do cofre, fazia uma finta para o seu cafocolo e argumentava que era melhor assim, para alegria da malta.  

Vão esforçar uma maratona à moda antiga, com camiões de birras, barracas à volta, tias dos pinchos a brilharem com os seus suínos — onde todos esquecerão os indultados, os sofrimentos e até mesmo as suas próprias identidades.  

Na sanzala organizada, maridos esquecerão o caminho de volta para casa por estarem com moças de colants que dançam o Tubiacanga: “É só mijar, sussa!”.  

Os do indulto estarão lá a fazer o que puderem, tal como os dredas das placas, com estupefacientes e birras no gelo — vão brilhar, e quem não aguenta, rebenta.

Jesus Está de Olho!

Escrito Por
Redação Portal Zango
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