Que Donald Trump é surpreendente, já se sabia. Mas quem imaginaria que, em apenas cem dias, a ordem económica mundial viraria do avesso?
Guerra de tarifas contra os principais parceiros comerciais, cortes draconianos nos gastos federais, rompimento com a doutrina neoliberal que consolidou a hegemonia económica dos Estados Unidos desde o pós-guerra – a lista de medidas controversas é longa e seus efeitos positivos, duvidosos. Trump está a fazer o histórico dele: um homem que se fez no agressivo mercado imobiliário de Nova York.
“É um choque? É, mas não é nada que ele não tenha prometido que faria, quando chegasse ao governo”, observa Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de Comércio Internacional na PUC-SP.
Quando ele trata aliados como inimigos, como fez com a Dinamarca em relação à Groenlândia, ou sobre a anexação do Canadá, ele coloca uma desconfiança não apenas nos seus rivais, mas nos seus próprios parceiros.
Essa desconfiança, aliada às mudanças na economia, podem fazer com que os países procurem outros aliados, porque não se confia mais nos Estados Unidos”, resume Daniela Freddo, professora de Economia da Universidade de Brasília (UnB).
‘Um elefante entre porcelanas chinesas‘
O aumento das taxas de importação pelos Estados Unidos à maioria dos seus parceiros comerciais acentua esta tendência.
A guerra tarifária declarada contra a China e as medidas de retaliação de Pequim podem levar os chineses a favorecer outros mercados, inclusive o brasileiro, potencial beneficiário pela manobra.
Outro eixo que tende a se fortalecer é o entre o Mercosul e a União Europeia, que podem finalmente acelerar a adopção de um tratado de livre comércio negociado há 25 anos, entre os dois blocos.
“É até compreensível que ele coloque tarifas contra a China, mas seria mais sensato que negociasse tarifas menores com a União Europeia, com o Japão, com os países que são parceiros do projecto americano”, afirma Alves dos Santos. ”Trump realmente é um elefante numa loja de porcelana chinesa”, assinala.
Nestes primeiros cem dias do governo do magnata, o Brasil foi alvo de um aumento de dez por cento das taxas de importação, mas não apareceu como um alvo prioritário das medidas hostis de Trump.
O país, entretanto, pode vir a ser uma vítima colateral de uma ofensiva do presidente americano contra os Brics, principalmente se o grupo de potências emergentes acelerar os projectos de substituição do dólar nas suas trocas comerciais, adverte Freddo.
“Mesmo que o Brasil não tenha sido o mais prejudicado neste primeiro momento, sempre fica a expectativa de não se saber o que ele vai decidir amanhã”, pontua a professora da UnB.
“E do ponto de vista comercial, os Estados Unidos são um parceiro muito importante porque são um mercado que compra as nossas manucfaturas, com maior valor agregado. São exportações de maior qualidade do que as para a China”, pondera.
Donald Trump foi eleito na 60.ª eleição presidencial quadrienal norte-americana, que ocorreu em 5 de Novembro de 2024 em todos os 50 estados e no Distrito de Columbia.
Na referida eleição saiu vencedora a chapa republicana do ex-presidente Donald Trump e do senador J. D. Vance, que foi eleito como vice-presidente dos EUA.
