Ouvimos essa pergunta em muitas famílias angolanas, e a resposta não é simples, mas precisa de ser vista com honestidade.
Autoridade, na sua raiz latina, significa ajudar a crescer. Portanto, não é mandar por mandar, nem controlar por medo. É servir ao crescimento dos filhos com presença, consciência e responsabilidade.
Muitas vezes, confundimos estar com os filhos com estar no mesmo espaço físico. No entanto, presença que educa é aquela que observa, ouve, assume responsabilidades e mantém a firmeza com empatia. Quando os pais se ausentam emocionalmente por trabalho excessivo, cansaço ou fuga do conflito, deixam um vazio onde deveria existir referência. Nessa ausência, os filhos acabam por assumir um lugar que não é deles, o de se criarem.
E quando os pais não assumem as decisões, dizem por exemplo “põe o cinto senão o polícia vai te prender” em vez de “põe o cinto porque é importante para a tua segurança”, passam para os filhos a ideia de que não temos autoridade própria.
Outro ponto fundamental que tem sido ignorado nas famílias é o respeito entre os próprios pais. Quando o pai diz uma coisa e a mãe diz outra, quando um corrige e o outro desautoriza, a criança cresce confusa, sem estrutura emocional e com espaço para manipular. A autoridade precisa de unidade. Um reforça a autoridade do outro, mesmo quando pensam de maneira diferente.

A autoridade consciente também não nasce do medo nem da culpa. Muitos pais, especialmente os que criam os filhos sozinhos ou passaram por separações difíceis, ou por alguma razão são ausentes sentem culpa e evitam dizer “não” para não se indispor com os filhos. Mas educar exige coragem para desagradar quando necessário. Crianças que crescem sem limites claros, sem perceber que as acções têm consequências, tornam-se inseguras e desrespeitosas, não por maldade, mas porque não aprenderam a reconhecer um adulto que as oriente com firmeza.
Educar não é pôr os filhos ao nosso nível. Criança não é igual ao adulto, ela precisa de pais que sejam referência, que a ajudem a entender que há regras, valores, horários, e que nem tudo pode ser feito ao seu bel-prazer.
A autoridade consciente é aquela que decide tendo em conta o momento, a necessidade da criança e o bem de todos. Não é autoritarismo, que impõe sem ouvir. Também não é permissividade, que ouve, mas não põe limites. A autoridade consciente é firmeza com empatia, é presença que estrutura, é amor que guia.
Por isso, mais do que perguntar se os filhos perderam o respeito, precisamos de perguntar se os adultos não têm fugido do seu lugar de educadores. A ausência enfraquece a autoridade, a divisão entre os pais destrói a autoridade, o medo e a culpa distorcem a autoridade. Só uma presença consciente, madura e coerente pode restaurá-la.
E essa reflexão também vale para o nosso país. Os acontecimentos que assistimos nos últimos dias de Julho mostram o que acontece quando a ausência de liderança coerente, a falta de cuidado com o espaço comum e a perda de valores se encontram.
Assim como numa família, quando os adultos de referência não assumem o seu papel, o ambiente se torna caótico e inseguro. Não se trata de procurar culpados, mas de reconhecer que cada um de nós é responsável pelo lugar onde vive começando pela forma como cuidamos da nossa casa, educamos os nossos filhos e respeitamos o que é de todos. A cidade é a extensão da nossa família, e o que não ensinamos e praticamos dentro de casa, mais cedo ou mais tarde, se reflecte nas ruas.
Então, experimente usar a autoridade com consciência.
Veja abaixo algumas atitudes comuns que enfraquecem a autoridade dos pais:
- “Tens que tomar o xarope senão o papá vai ficar triste.”
- “Para de correr no hospital, olha a enfermeira vai te dar uma pica.”
- “Ainda usas biberon? Isso é coisa de bebé, os teus amigos vão te rir.”
- “Os meus colegas dormem tarde, só eu é que durmo cedo.”
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O que dizer com autoridade consciente? - “Tens que tomar o xarope porque estás doente e nós queremos que fiques melhor.”
- “Aqui no hospital não é lugar para correr. Há pessoas doentes e podes te magoar ou magoar alguém.”
- “Já cresceste e já sabes usar o copo, por isso já podes deixar o biberon.”
- “Não é sobre o que os teus colegas fazem. Aqui em casa, nós temos uma rotina diferente, e esta é a hora de dormir.”
Autoridade não é ameaça, nem chantagem emocional, é clareza, coerência e coragem. Quando os pais assumem o seu lugar com maturidade, os filhos crescem com segurança e respeito. E quando os cidadãos assumem o seu papel com maturidade, as cidades crescem com ordem e dignidade.
Educar dá trabalho, mas lidar com adultos desequilibrados e sociedades desorganizadas custa muito mais.
Por: Elisângela Chissamba

