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Por que Angola Continua Fora do Mapa das Big Five?

Angola continua a ser um mercado relativamente pequeno no domínio digital. Em 2025, havia apenas 17,2 milhões de utilizadores de internet (44,8% da população), contra 107 milhões na Nigéria (45,4%), 27,4 milhões no Quénia (48,0%) e 50,8 milhões na África do Sul (78,9%), de acordo com dados da Datareportal.

Ou seja, apesar do crescimento económico registado nos últimos anos, a base de consumidores conectados em Angola é significativamente menor.

Isto traduz-se num mercado de internet e de smartphones menos atractivo em escala para as grandes tecnológicas.

Acresce ainda o facto de Angola ser um país lusófono, o que a torna menos visível para empresas globais que privilegiam regiões de língua inglesa — as chamadas economias emergentes anglófonas de África.

Mesmo os esforços em curso para a digitalização, como a expansão da cobertura móvel 3G/4G e os projectos de governo electrónico, ainda não colocam o país ao nível da infraestrutura de TIC dos vizinhos mais desenvolvidos.
O ambiente de negócios em Angola?

Analistas salientam que a corrupção endémica e a insegurança jurídica geram desconfiança entre investidores estrangeiros. Conforme observa o especialista Osvaldo Mboco, “contratos são difíceis de fazer valer, e as regras podem mudar sem aviso prévio”, um sinal de alerta para qualquer multinacional, declarou ao Sunday Independent.

A conjuntura macroeconómica também complica a situação. A moeda nacional, o kwanza, sofreu recentemente uma desvalorização acentuada (21% em apenas um mês), tornando imprevisíveis os custos de operação.


A inflação e os controlos cambiais rígidos encarecem os investimentos em hardware e operações locais. Em contrapartida, países como Nigéria, Quénia e África do Sul apresentam moedas mais estáveis e políticas regulatórias mais claras, criando condições mais favoráveis para atrair multinacionais.

Apesar das dificuldades, Angola tem procurado captar investimentos no sector tecnológico, como, por exemplo, a redução das tarifas de importação de dispositivos digitais (de 10% para 2%) e a adesão a iniciativas continentais, como a Smart Africa Alliance.

Essas parcerias colocam Angola em ligação com gigantes como Google, Microsoft, Meta e AWS. Porém, na prática, estas políticas permanecem numa fase inicial e não se traduzem automaticamente na instalação de escritórios locais. Muitas vezes, as empresas optam por parcerias ou representação indirecta, em vez de presença física.

Estratégia das Big Five?

As chamadas Big Five — Google (Alphabet), Apple, Microsoft, Amazon e Meta (Facebook) — têm expandido os seus investimentos em África de forma selectiva.

No caso do Google, foi anunciado em 2021 um fundo de mil milhões de dólares para o continente, com foco em países como Nigéria, Quénia, África do Sul e Gana. Angola, no entanto, ficou fora dos principais programas. Segundo a imprensa local, o contacto com o Google no país é feito por meio de uma representante, a Accelera Digital Group, que funciona como ponte entre a multinacional e o mercado angolano.

A Microsoft também não dispõe de escritório em Angola. A sua actuação mais relevante ocorreu em 2021, quando passou a fornecer conteúdo directamente através de um ponto de troca de tráfego (IXP) em Luanda, melhorando a desempenho de serviços como Xbox e Teams. Ainda assim, a operação é indirecta, sem presença administrativa no país, ao contrário do que acontece em mercados de maior dimensão.

A Amazon iniciou apenas em 2025 um movimento para entrar em Angola, sobretudo com serviços da AWS, mas ainda não criou entidade legal nem data center no país. As operações continuam a ser centralizadas a partir da África do Sul, Nigéria e Quénia.

Já a Apple limita-se a actuar por meio de revendedores autorizados em Luanda, como iShop e MySpot. A empresa não possui loja nem representação própria, adoptando a mesma estratégia usada em outros países africanos com menor escala de consumo.

Quanto à Meta, a presença em Angola restringe-se ao uso das suas plataformas (Facebook, Instagram e WhatsApp), sem escritórios locais. A nível continental, a empresa abriu representação em Joanesburgo (2015) e Lagos (2021), mas não estendeu a presença física ao mercado angolano.

A ausência das Big Five em Angola deve-se, sobretudo, a factores estratégicos: mercado digital reduzido, riscos económicos, barreiras regulatórias e menor integração cultural com os principais hubs tecnológicos africanos. Para já, as gigantes optam por manter operações indirectas, até que condições mais estáveis e atractivas justifiquem a abertura de escritórios próprios em Luanda.

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