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O Filho Perfeito!

E se o seu filho fosse perfeito?

Por um momento, imagine um filho que faz tudo certinho, não grita, não se suja, não contraria, tira sempre boas notas, aprende com facilidade todas as disciplinas, não revira os olhos, come e gosta de todos os legumes e frutas, não bate o pé, não chora quando é contrariado, arruma tudo, desde os brinquedos até os sapatos, lê os livros que lhe são oferecidos e brinca ao ar livre por vontade própria, longe das telas.

Cumpre os horários à risca, segue as regras com alegria e generosidade, partilha tudo com os outros sem queixas. Que perfeição! Quem nunca imaginou parar de corrigir constantemente e não ter de ensinar? Quem nunca desejou ter um manual para educar?

A princípio, a ideia de ter um filho assim parece tentadora, talvez até nos faça pensar que a vida seria mais fácil, menos cansativa, mais tranquila. Mas, se pensarmos bem, rapidamente percebemos que essa busca por um filho perfeito não é apenas uma ilusão, mas uma prisão que nos impede de ver o que realmente importa no processo de crescimento e aprendizado, tanto para os filhos quanto para nós os pais.

A perfeição é uma construção irreal, um conceito distante que, quando nos esforçamos por alcançá-lo, nos desconecta da verdadeira essência da educação e da convivência familiar. A vida não é feita de “perfeitinhos”, mas de imperfeições, desafios e erros. E são justamente esses erros que se tornam as maiores oportunidades para o crescimento.
Quando as crianças erram, gritam, choram, questionam e até se rebelam, estão, na verdade, a aprender.

Estão a formar a sua própria identidade, a testar os limites do mundo que as rodeia. E nós, pais, ao sermos confrontados com essas “imperfeições”, temos a possibilidade de reflectir, ajustar os nossos próprios comportamentos e, acima de tudo, também crescer com elas.

As dificuldades que as crianças apresentam, os momentos de desobediência, a falta de vontade em arrumar a cama ou as discussões sobre a quantidade de telas permitida são, na realidade, sinais de que elas estão a desenvolver competências sociais e emocionais. E o melhor de tudo é que essas dificuldades nos desafiam a crescer. Cada desafio é uma oportunidade para nos tornarmos melhores pais, mais atentos, mais pacientes e mais empáticos.

Ao buscar um filho perfeito, corremos o risco de negar-lhe o direito de errar, de aprender com os próprios erros e de se desenvolver de forma plena. Errar e questionar não são sinónimos de desrespeito. Ao tentar moldá-lo a uma imagem idealizada, acabamos por perder o essencial, a autenticidade, a capacidade de abraçar as falhas e usá-las como trampolins para o crescimento.

Mas é curioso como, tantas vezes, exigimos deles aquilo que nós mesmos ainda não conseguimos viver. Queremos filhos calmos quando nós mesmos nos exaltamos, filhos obedientes quando desobedecemos a Deus, filhos pacientes quando perdemos a paciência com o trânsito, com o tempo, com a vida. Sem perceber, pedimos perfeição aos nossos filhos enquanto revelamos, todos os dias, as nossas próprias imperfeições.

Deus, o Pai perfeito, não exige de nós perfeição imediata. Ele conhece o barro de que somos feitos (Salmo 103:14) e ainda assim escolhe amar-nos, educar-nos e corrigir-nos com paciência e misericórdia. Se o próprio Deus, que é Santo, nos trata com graça, porquê que cobramos de uma criança o que nem Ele exige de nós?

Os nossos filhos não foram feitos para serem uma extensão de nós, mas para revelarem algo novo de Deus ao mundo. Eles têm um propósito, uma história e um ritmo único. A missão dos pais não é fabricar filhos que façam tudo certo, mas guiar corações em direcção à verdade, à graça e ao amor.

Por isso, antes de corrigir, respira, antes de apontar o erro, pergunta-te: “O que esta situação está a ensinar sobre mim?” Talvez Deus esteja a usar o comportamento do teu filho não para te irritar, mas para te transformar, para curar a tua pressa, o teu perfeccionismo, a tua dureza.

Educar é também um acto de conversão, converter o nosso olhar, a nossa fala, o nosso coração.

Aproveita este fim de semana para criar um momento em família sem pressões. Cada um pode partilhar um erro que aconteceu durante a semana, sem julgamentos. Ao fazer isso, todos hão de ver que errar é normal, e poderão compreender a forma como cada um lida com as suas falhas e como pode melhorar diante delas.

Criar um espaço onde as falhas podem ser partilhadas sem medo fortalece a confiança mútua e ensina que a imperfeição é uma oportunidade de crescimento.
Porque, no fim, o que transforma o lar não é o filho perfeito, mas pais dispostos a amar de forma perfeita, incondicional e verdadeira, como Deus nos ama.

Por: Elisângela Chissamba

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