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Ana Paula Tavares Afirma que Camões é “Quase Inexistente” no Ensino Angolano

A escritora angolana Ana Paula Tavares, recentemente distinguida com o Prémio Camões 2025, afirmou no Festival Literário Internacional de Óbidos (Folio) que Luís de Camões praticamente deixou de ter presença nos programas escolares em Angola e é hoje pouco conhecido pelos estudantes.

Segundo a autora, “Camões não é ensinado, raramente é lido e praticamente não faz parte da formação literária em Angola, salvo por iniciativa isolada de alguns docentes ou jovens com interesse particular”.

As declarações foram feitas durante uma conversa integrada no tema “As fronteiras de Camões ou Camões sem Fronteiras”.

A escritora explicou que este afastamento resulta da reformulação dos manuais escolares após a independência do país, momento em que o sistema de ensino passou a privilegiar a literatura produzida por autores angolanos e africanos, numa tentativa de consolidar referências culturais próprias.

Com essa mudança, Camões deixou de constar dos currículos, mas, conforme sublinhou, também alguns pioneiros da literatura angolana como Luandino Vieira, António Jacinto ou António Cardoso acabaram por desaparecer gradualmente das listas de autores estudados.

Ainda assim, Tavares lembra que a escrita de Luandino, por exemplo, revela fortes ecos camonianos, tal como diálogos com Shakespeare e Cervantes, contribuindo para uma fusão linguística entre o português e as línguas nacionais.

A mesma posição foi partilhada pelos também presentes Orlando Piedade, de São Tomé e Príncipe, e José Luíz Tavares, poeta cabo-verdiano e tradutor de Camões para o crioulo de Cabo Verde, que reconheceram que o autor português igualmente não integra o estudo formal nos seus países.

Apesar disso, ambos consideram-no um escritor “sem limites geográficos”, cuja poesia continua a surgir dispersa no espaço lusófono.

Ana Paula Tavares, doutorada em Antropologia da História pela Universidade Nova de Lisboa e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem obras como “Ritos de passagem”, “O Sangue da buganvília” e “Manual para amantes desesperados”.

A 10.ª edição do Folio decorru até domingo, reunindo autores de renome internacional, entre os quais três laureados com o Prémio Nobel da Literatura: J.M. Coetzee, Svetlana Alexievich e László Krasznahorkai, que integrou a programação no domingo.

O festival é organizado pelo município de Óbidos, em colaboração com a Óbidos Criativa, a Ler Devagar e a Fundação Inatel.

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