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|xam: A Língua ‘Adormecida’ da África Desperta em Pedra na Universidade de Oxford

No coração da Universidade de Oxford, um capítulo da história africana foi reescrito em pedra.

A sete de Março do ano em curso, a Rhodes House testemunhou uma homenagem solene à língua |xam, idioma ancestral do povo San.

Mais do que uma simples cerimónia, o evento marcou a instalação de uma inscrição permanente, um tributo que ecoa através dos tempos, honrando não apenas a língua, mas também aqueles que a preservaram.

A inscrição, uma declaração que “recorda e honra o trabalho e o sofrimento daqueles que trabalharam para criar essa riqueza”, foi meticulosamente traduzida para |xam e esculpida no parapeito de pedra do recém-reformado centro de convenções da Rhodes House.

Este gesto representa uma resposta directa ao legado de Rhodes, cuja bolsa de estudos, embora tenha beneficiado muitos, foi construída sobre a expropriação de terras e a exploração de populações negras na África Austral.

A língua |xam, falada até o início do século XX pelos descendentes dos povos Khoesan e Afrikaner do Cabo Setentrional, era considerada extinta.

No entanto, o trabalho pioneiro dos linguistas Wilhelm Bleek e Lucy Lloyd, que documentaram a língua no final do século XIX na Cidade do Cabo, preservou um legado linguístico e cultural inestimável.

A inscrição em Oxford não apenas imortaliza a língua |xam, mas também a conecta a um legado cultural mais amplo. Línguas como o Khoekhoegowab, ainda faladas na África Austral, partilham raízes com o |xam, e a sua influência ecoa na literatura sul-africana e no lema do brasão de armas da África do Sul: “povos diversos se unem”.

A iniciativa de traduzir e inscrever a declaração em |xam foi liderada por Elleke Boehmer e Luan Staphorst, estudiosos de histórias literárias e narrativas.

Em colaboração com falantes e professores de línguas relacionadas, eles garantiram a precisão e a sensibilidade da tradução.

A presença das consoantes de clique características do |xam na inscrição traz uma marca africana inconfundível ao coração de Oxford.

Mais do que um mero gesto simbólico, a escultura representa um acto de resistência contra a tomada de terras e a exploração de pessoas que sustentaram o projecto colonial.

A inscrição da língua |xam na Rhodes House não apaga o passado, mas convida a um diálogo contínuo sobre o legado de Cecil Rhodes e o impacto do colonialismo.

Ao trazer à tona uma língua e uma cultura quase esquecidas, a Universidade de Oxford reconhece a importância de reparar injustiças históricas e celebrar a diversidade linguística e cultural.

Por sua vez, este evento marca um passo significativo na jornada de reconhecimento e reparação, e serve como um lembrete de que as línguas e culturas minoritárias merecem ser valorizadas e preservadas.

Escrito Por
Redação Portal Zango
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