Que Angola estamos a ensinar aos nossos filhos?
Uma Angola de muros invisíveis, onde a origem de alguém define o respeito que recebe? Ou uma Angola de pontes, onde a diferença é celebrada e não motivo para exclusão?
Tudo começa em casa, com o que falamos, mesmo quando acreditamos que os nossos filhos não estão a ouvir.
Ser pai e ser mãe não é apenas colocar comida na mesa, pagar escola, roupas e calçados. Ser pai é formar o olhar, é ensinar valores e o que não agrega, é ter a coragem de se rever, de se reformar e de se transformar.
Todos nós, pais e mães conscientes, queremos o melhor para os nossos filhos: o melhor berço, o melhor hospital, as melhores roupas, os melhores amigos, boas escolas, segurança, saúde, estabilidade… E está certo, não é errado desejar o melhor. Mas, e nós? Será que estamos a ser o melhor exemplo que eles podem ter?

A educação é muito mais do que doméstica, é social, é emocional, é espiritual. Como pais, temos a responsabilidade de olhar o mundo com olhos limpos para que os nossos filhos aprendam a olhar assim também. Porque é nas entrelinhas das conversas de adultos que os preconceitos se instalam. É nas piadas “sem maldade”, nas frases que proferimos sem pensar, que os filhos aprendem a excluir e a julgar.
Nenhuma criança nasce a saber o que é “certo” ou “errado”, “bonito” ou “feio”, “inferior” ou “superior”. Tudo é aprendido. E como pais somos os primeiros professores. Frases como:
- “Sulanos são falsos.”
- “Malanjino não paga renda.”
- “Os Bakongos são confusionistas.”
Não são apenas frases, são sementes.
Sementes de tribalismo, de exclusão, de preconceito disfarçado de brincadeira. E essas sementes crescem com os filhos que se tornam adultos que julgam o outro antes mesmo de conhecer.
O tribalismo em Angola ainda nos fere, divide famílias, enfraquece amizades, constrange casamentos, limita oportunidades. Está presente no mercado de trabalho, nas igrejas, nas redes sociais, e infelizmente, dentro das nossas casas. E enquanto fingirmos que é “só uma brincadeira”, estaremos a perpetuar dores antigas, que se disfarçam de tradição.
A maternidade e a paternidade não são feitos apenas de força e alegria. Há também solidão, exaustão e medo. E tudo isso precisa de acolhimento. Porque pais e mães cansados, pressionados para serem perfeitos, não têm espaço emocional para rever as palavras que utilizam e muito menos para questionar os preconceitos que repetem.
Se queremos filhos empáticos, temos de ser pais humanos, com falhas, sim, mas com consciência.
Educar é um acto de amor, mas também de coragem.
Coragem para quebrar padrões.
Coragem de dizer: “Eu também fui criado assim, mas não quero isso para os meus filhos.”
Coragem de confrontar o tribalismo, o racismo, o machismo, o feminismo e todas as formas de exclusão que herdámos como se fossem verdades absolutas e certas.
Coragem de viver Romanos 12:10, preferindo o outro em honra, mesmo que ele seja diferente de nós.
Por: Elisângela Chissamba.