Especialistas em carreira e tecnologia ouvidos pela Forbes apontam para uma reconfiguração das funções, com as habilidades humanas em destaque.
A inteligência artificial não vai substituir todos os empregos, mas certamente vai transformar muitos deles.
É o que aponta um novo estudo da Microsoft, que analisou mais de 200 mil interações anônimas de usuários nos EUA com o Copilot — assistente de IA da própria empresa — para mapear as tarefas mais automatizadas no dia a dia e, a partir disso, identificar as profissões mais (e menos) impactadas pela tecnologia.
O resultado é o “índice de aplicabilidade da IA”, que classifica ocupações com base no quanto suas tarefas podem ser realizadas com o apoio da inteligência artificial.
Profissões ligadas à escrita, comunicação e análise de dados — como tradutores, redactores, representantes de vendas e jornalistas — aparecem entre as mais expostas à actuação da IA.
Por outro lado, cargos que exigem habilidades manuais, empatia directa ou trabalho físico, como operadores de maquinário, enfermeiros e técnicos da saúde, seguem relactivamente protegidos.
“O que vamos ver não é a IA tomando todos os postos de trabalho, mas sim mudando a forma como os profissionais actuam”, diz Lucas Brossi, sócio e líder de prática de inteligência artificial da Bain & Company, consultoria global de gestão estratégica, na América do Sul.

O futuro (e o presente) do trabalho com a IA
O avanço da IA abre portas para um novo tipo de colaboração. “A IA é uma ferramenta de suporte, e não uma substituição completa”, diz Maria Sartori, directora de mercado na Robert Half, consultoria de recursos humanos. “A tecnologia pode assumir tarefas repetitivas, mas também potencializa o que o profissional já faz de melhor”, complementa Brossi.
“Não se trata de competir com a IA naquilo que ela já faz bem, mas de fortalecer o que só o humano consegue entregar: visão estratégica, sensibilidade, criatividade e julgamento.”
Lucas Brossi, sócio da Bain & Company na América do Sul
Nesse novo cenário, habilidades humanas continuam a ser o maior diferencial. “Empatia, inteligência emocional, pensamento crítico, adaptabilidade e julgamento ético permanecem fora do alcance das máquinas”, destaca David Dias, sócio-líder de inteligência artificial da EY, consultoria global especializada em auditoria, impostos, estratégia e transformação digital, na América Latina. “O grande desafio será a reinvenção das pessoas: a velocidade de transformação está a exigir que busquemos nos reinventar rapidamente e de forma constante.”
A tendência, segundo os especialistas, é de uma reconfiguração nas funções. “Os processos serão redesenhados com a IA no centro, criando funções híbridas – parte automatizadas, parte humanas”, explica Brossi. “O trabalho humano vai ser alçado a um novo patamar de decisão, criatividade e impacto estratégico. Enquanto isso, a IA vai deixar de ser um diferencial, como ainda ocorre actualmente, e passar a ser considerada uma competência básica”, completa Sartori.
A seguir, veja as profissões mais e menos afectadas pela IA, segundo a Microsoft
A pesquisa “Working with AI: Measuring the Occupational Implications of Generative AI” (em tradução para o português, Trabalhando com IA: medindo as implicações ocupacionais da inteligência artificial generativa) é focada no mercado de trabalho dos Estados Unidos.
Os pesquisadores criaram um “índice de aplicabilidade da IA” — uma pontuação que indica o quanto as tarefas de cada profissão podem ser executadas e automatizadas com o uso da inteligência artificial. Quanto maior a pontuação, maior o potencial de impacto da tecnologia naquele trabalho. Confira:
Profissões mais impactadas pela inteligência artificial
Intérpretes e tradutores
Historiadores
Comissários de bordo
Representantes de vendas
Redactores e autores
Atendentes de suporte ao cliente
Programadores de CNC (Controle Numérico Computadorizado)
Operadores de telefonia
Agentes de viagens
Locutores e radialistas
Escriturários de corretagem
Educadores em gestão agrícola e doméstica
Telemarketing
Concierges
Cientistas políticos
Repórteres e jornalistas
Matemáticos
Redactores técnicos
Revisores e editores de texto
Recepcionista
Editores
Professores universitários de negócios
Especialistas em relações públicas
Demonstradores e promotores de produtos
Agentes de vendas de publicidade
Escriturários de novas contas
Assistentes estatísticos
Balconistas de atendimento e aluguel
Cientistas de dados
Consultores financeiros pessoais
Arquivistas
Professores de Economia
Desenvolvedores web
Analistas de gestão
Geógrafos
Modelos
Analistas de pesquisa de mercado
Operadores de telecomunicações de segurança pública
Telefonistas
Professores de biblioteconomia.
Profissões menos impactadas pela inteligência artificial
Operador de draga
Operador de ponte e eclusa
Operador de estação de tratamento de água
Fundidor e moldador
Operador de máquina de instalação e manutenção de trilhos
Piloteira (costureira de peças-piloto)
Lixador e acabador de piso
Auxiliar de enfermagem hospitalar
Operador de embarcação a motor
Operador de equipamento florestal
Operador de máquina de pavimentação, nivelamento e compactação
Empregada doméstica e faxineira
Trabalhador geral em petróleo e gás
Telhadista
Operador de estação de compressão e bombagem de gás
Ajudante de telhadista
Fabricante de pneus
Assistente cirúrgico
Massagista
Técnico em oftalmologia
Operador de empilhadeira e trator industrial
Supervisor de bombeiros
Mestre de obras e acabador de concreto
Lavador de louça
Alimentador e auxiliar de máquinas
Operador de máquinas de embalagem e enchimento
Preparador de equipamentos médicos
Trabalhador de manutenção rodoviária
Ajudante de produção
Prostodontista (dentista especializado em próteses dentárias)
Reparador e troca de pneus
Engenheiro naval
Instalador e reparador de vidros automotivos
Cirurgião bucomaxilofacial
Operador de planta e sistemas (diversos)
Embalsamador
Ajudante de pintor, encanador e funções similares
Trabalhador na remoção de materiais perigosos
Auxiliar de enfermagem
Flebotomista (responsável pela extração do sangue em pacientes).
Fonte: forbes.com.br

