O Censo Geral da População e Habitação de 2024 chegou num momento crucial para Angola, oferecendo uma oportunidade de ouro para corrigir os erros do passado e melhorar a gestão de recursos e políticas públicas. Mas será que estamos a repetir os mesmos desafios de 2014? Como podemos transformar esta operação numa verdadeira ferramenta de desenvolvimento?
Angola enfrenta, mais uma vez, um importante processo de contagem da sua população com o Censo Geral da População e Habitação de 2024. O censo é uma ferramenta vital para a gestão de políticas públicas, alocação de recursos e compreensão das necessidades da população. No entanto, a execução deste tipo de operação continua a enfrentar problemas crónicos, que, infelizmente, lembram as dificuldades encontradas em outros processos nacionais, como as eleições e as campanhas governamentais.
O censo deste ano, assim como as eleições recentes, foi marcado por relatos de desorganização logística. Muitos angolanos, especialmente em áreas mais periféricas, não foram contactados por agentes censitários. Este problema ecoa as queixas comuns em campanhas eleitorais, nas quais os eleitores, principalmente em áreas rurais, reclamam de falta de informações, desorganização e dificuldades em exercer os seus direitos de voto. Tal como no censo, a exclusão de parcelas da população em eleições representa um grave risco para a representatividade e para a legitimidade dos resultados  .
Um erro recorrente em operações como o censo e eleições é a falha em fornecer formação adequada e recursos para os agentes de campo. Em 2024, houve relatos de falta de equipamento e de treinamento suficiente para aqueles responsáveis por recolher os dados da população. O mesmo cenário se repete nas eleições, onde, frequentemente, os agentes eleitorais são mal preparados para lidar com a pressão do dia das votações, resultando em atrasos, confusões e até erros de contagem. Esta falta de preparação sistemática prejudica não apenas o processo em si, mas também a confiança da população nas instituições.
Além dos problemas logísticos, há também uma questão de transparência. Muitas vezes, tanto nos censos quanto nas eleições, as campanhas de sensibilização que precedem estes eventos são insuficientes ou mal direcionadas. Campanhas eleitorais falham em engajar os cidadãos com debates reais sobre as suas preocupações, limitando-se muitas vezes a promessas vagas e pouco realizáveis. Da mesma forma, o censo carece de uma abordagem mais abrangente que explique ao cidadão comum a importância de sua participação. Sem essa educação cívica efectiva, a adesão diminui e a confiança no resultado é abalada .
O resultado desse ciclo de erros é um país que, a cada nova operação de censo ou eleição, continua a enfrentar os mesmos desafios. A falta de planeamento adequado, combinada com uma execução ineficiente, compromete os resultados e a credibilidade destas operações. É essencial que Angola se espelhe em exemplos internacionais de sucesso e comece a investir seriamente em planeamento, transparência e envolvimento efectivo da sociedade civil. Sem isso, continuaremos a repetir os erros de sempre.
Para um futuro mais inclusivo e representativo, é necessário um compromisso real com a melhoria das operações nacionais. O censo de 2024, assim como as eleições que o precederam, pode ser uma oportunidade de transformação. Porém, para que isso ocorra, é preciso mais do que discursos e boas intenções; é preciso uma mudança estrutural e de atitude por parte das autoridades responsáveis.
Agora, mais do que nunca, é o momento de repensar como lidamos com a formação dos agentes de campo, a mobilização das comunidades e, principalmente, a utilização dos dados para criar políticas públicas que realmente façam a diferença. Angola tem em suas mãos a oportunidade de transformar o Censo 2024 numa verdadeira ferramenta de desenvolvimento para o país.
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