Crônica de Manuel de Jesus
Além de ser olheiro, Jesus também é ouvinte, e ao ouvir dizer, Ele soube que, enquanto no ventre, os gémeos tendem a lutar pelo espaço. Nos países do dito “primeiro mundo”, houve um caso em que, supostamente, um feto matou o seu irmão gémeo, utilizando o cordão umbilical. Mas também se sabe que, em muitos partos de gémeos, o mais forte ajuda o mais fraco, empurrando-o para que saia primeiro, um gesto bonito, esse!
Jesus conhece casos em que irmãos vivem como rivais, fatigando-se à toa, não se gostando, invejando-se, “balando bué” e até mesmo se “bondando”.
No livro Sagrado, há histórias de pessoas que foram fatigadas pelos próprios irmãos, como, por exemplo, o caso de José, que foi vendido pelos irmãos devido a um sonho, ou Davi, que era ignorado e humilhado. Conhecem a história do filho pródigo? Yah, o kamone dele não curtiu nada quando ele regressou ao cúbico.
Aqui na nossa banda, também há muitas histórias do género, e pior ainda, porque muitos dos nossos velhos têm bué de funges, e cada funge tem um ou mais monames. Quando esses se encontram, é um “faite” duro. Na hora da divisão das heranças, sempre há alguém que diz: “É mormão de pai, por isso não tem peso na lista de pessoas prioritárias”. Alguns velhos ainda se esforçam para ensinar a educação e a união do clã, mas outros já nem sequer se importam!
Nos becos da Tia Bela, Mamã Gorda, Paraíso e o Curu, existem os “mana moças”, aqueles putos que partiram os lápis cedo ou nunca tiveram um para partir. Eles parecem vir com espírito de divisão. São filhos do mesmo Pai e da mesma Mãe, mas um é do grupo “Quem me suja não me limpa”, e o outro pertence aos “Demónios”. Esqueçam o Sambizanga por enquanto. Na luta de “gangues”, os irmãos se confrontam com toda a energia e com as ferramentas do ofício, como paus, ferros, pedras, lâminas, catanas e picões.
No fim de cada “babulo”, se ainda tiverem oxigénio nos pulmões e o corpo inteiro para regressar ao cúbico, “nu xtragó”, amanhã tem mais. Já no biva, as caras desfiguradas e marcadas pelas famosas centopeias, a fazerem presenças e a estragarem o bilhete.
No dia em que a sorte não sorri, um dos irmãos, com uma chave de fenda em mãos, apunhala o seu companheiro de infância, aquele que tem o mesmo sangue nas veias, tal como aconteceu no Rocha Pinto. Sob o efeito de estupefacientes, sente-se orgulhoso da sua acção, mostrando que não importa o quão bonito seja o problema, ele deve ser resolvido.
O amor de mãe é posto à prova. Mesmo com o coração partido, ainda a chorar pela perda de um filho, ela leva comida para o homicida, que também é seu filho, e faz as devidas diligências para a sua libertação. O pai, revoltado com a situação, vê-se obrigado a colocar-se em posição de fuga à paternidade.
Esses conflitos têm trazido muitas consequências, destacando-se a desestruturação familiar.
No meio da mata, lá no Mayombe, o primo “bondou” o outro primo (que, segundo algumas tradições, eram primos como irmãos). Resultado: as verdadeiras irmãs não se falam.
Talvez ainda não tenhamos visto nem ouvido tudo neste mundo que está de patas para o ar. No Dombe Grande, um wi fez umas rezas rijas para apagar o seu irmão do mapa, por este ser bem-sucedido, depois herdou a casa e “lundulou” a mboa do irmão… gajo mau!
Corajosamente, foi criada a seguinte frase:
“Um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo é sempre um irmão!”
Jesus adverte: Vivam em harmonia uns com os outros. Os irmãos devem apoiar-se e respeitar-se mutuamente. E lembrem-se:
Jesus Está De Olho!!!
