O antigo Presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, regressou ao país após cinco anos de ausência e juntou-se aos rebeldes do M23, actualmente instalados na cidade de Goma, capital da província do Kivu Norte, controlada pelos insurgentes desde o início do ano.
A informação foi confirmada pelo porta-voz do movimento rebelde, Lawrence Kanyuka, que deu as boas-vindas ao ex-chefe de Estado, referindo-se à região como “território libertado”. A presença de Kabila entre os rebeldes acaba por dar razão às acusações do actual Presidente, Félix Tshisekedi, que sempre o apontou como um dos mentores da aliança rebelde que inclui o M23 e a Aliança do Rio Congo (AFC), apoiada pelo Ruanda.
Joseph Kabila foi recebido por Corneille Nangaa, líder da AFC e antigo presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), que nos últimos meses tem prometido uma ofensiva até Kinshasa com o objectivo de depor o actual Governo.
O declarado opositor do actual Presidente, Félix Tshisekedi, apresentou-se perante os jornalistas sem fazer declarações.
Visivelmente relaxado, vestindo um fato escuro e sem a sua habitual barba, o antigo chefe de Estado mostrou-se disponível para as fotos que marcaram a sessão.
Joseph Kabila classificou na sexta-feira – no dia seguinte ao levantamento da sua imunidade parlamentar e num raro discurso transmitido ‘online’ -, a existência de uma “ditadura” promovida pelo Governo de Kinshasa e anunciou que estaria “nos próximos dias” em Goma.
Kabila, de 53 anos, que governou a RD Congo de 2001 a 2019, deixou o país no final de 2023, mas ainda possui uma importante rede de influência. Em Abril, o antigo chefe de Estado já tinha anunciado à imprensa que iria retornar ao país “pela parte leste”, sendo que grande parte desta região está sob o controlo do M23, apoiado pelo Ruanda e o seu exército.
O leste congolês, uma região rica em recursos naturais na fronteira com o Ruanda, é dilacerado por conflitos há 30 anos. A violência nesta zona intensificou-se nos últimos meses com a tomada do M23 das grandes cidades de Goma e Bukavu, capitais das províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul.
Em Abril, o ministro da justiça, Constant Mutamba, recorreu à justiça militar para lhe instaurar um processo. O senado acabou por levantar a imunidade de Kabila em 22 de Maio, acusando-o de traição, participação num movimento insurrecional, participação em crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Esta decisão não foi uma grande surpresa, uma vez que a coligação de Félix Tshisekedi detém uma maioria esmagadora no parlamento e o partido do ex-Presidente, que boicotou as últimas eleições no final de 2023, não está representado no mesmo.
A independência do poder judicial na República Democrática do Congo, país vizinho de Angola, é, além disso, regularmente posta em causa.